segunda-feira, novembro 17, 2008

OS PALHAÇOS

Há uma grande diferença entre respeito e “respeitinho”. O respeito funda-se na autoridade moral, o respeitinho no autoritarismo. O que se passou na Assembleia Regional da Madeira, com um deputado a chamar «fascista» ao presidente do governo regional, ao mesmo tempo que desfraldava a bandeira do partido nazi, seria impensável suceder no Congresso ou no Senado dos Estados Unidos da América, apesar de este ser o país do mundo onde existe maior liberdade de expressão. Nem o comportamento do deputado do PND que desfraldou a bandeira nazi, nem o comportamento dos sociais-democratas madeirenses que o suspenderam de funções, o impediram de entrar na Assembleia e apresentaram queixa no tribunal.

E para ser franco, choca-me mais a reacção social-democrata do que a actuação do deputado do PND. Na verdade, ao reagirem da forma como o fizeram, os sociais-democratas da Madeira acabaram por justificar e legitimar a atitude do deputado do PND. Com efeito, só uma sociedade totalmente avessa aos mais elementares princípios da democracia e da liberdade pode reagir da forma violenta como os sociais-democratas madeirenses reagiram a uma palhaçada daquelas. Até parece que lhes enfiou a carapuça. Sem esquecer que, como diz o povo, «na terra onde fores viver, faz como vires fazer». E estando nós tão habituados a tiradas semelhantes dos presidentes do governo e assembleia regionais, ninguém compreende por que razão os sociais-democratas da Madeira se sentem agora tão ofendidos e melindrados com uma simples brincadeira de mau gosto.

No Senado e no Congresso dos EUA, isto seria, no entanto, impensável de ocorrer porque os americanos têm o cuidado de eleger congressistas e senadores, em vez de palhaços. Em Portugal, pelo contrário, as assembleias da República, regionais e municipais só muito raramente se conseguem distinguir dum circo, a não ser pelo número de palhaços que, nos circos, é, em regra, bastante mais reduzido.

Nos EUA, basta uma simples notícia fundamentada que ponha em causa a honorabilidade do congressista ou do senador para este colocar, de imediato, o lugar à disposição. Em Portugal, a falta de vergonha é tanta que, quanto mais atascado estiver na lama, mais se agarra ao lugar, protegido pelas leis que ele próprio ajudou a aprovar e pelos apaniguados cujos tachos e favores comprou com o dinheiro dos contribuintes. E como o nosso povo se revê nesta gente, têm sempre o seu voto garantido. Isto é que me revolta e escandaliza.

Não se pense, no entanto, que o circo está confinado à Madeira. Aquilo é circo pobre. A quem eu nunca achei qualquer graça é ao palhaço rico, não é ao palhaço pobre. O palhaço rico é aquele que se escandaliza com as palhaçadas do palhaço pobre, mas, depois, é capaz de aprovar leis inconstitucionais ou rejeitar leis, contra a sua consciência, para não perder votos em eleições regionais ou nacionais.

E sobretudo não acho qualquer graça a quem faz de nós palhaços, como é o caso do nosso primeiro-ministro e do ministro das Finanças que, num dia, chamam de irresponsáveis a quem apresenta determinada proposta e, no outro, aprovam precisamente as propostas que, no dia anterior, classificaram de totalmente irresponsáveis. Mas, como o povo português adora o circo, esta gente tem sempre a eleição garantida.

Santana-Maia Leonardo : http://sol.sapo.pt/blogs/contracorrente

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